A doença periodontal em cães assume-se como uma das principais patologias observadas em animais de companhia. No caso dos cães, é a patologia dentária mais comum.
Importa assim compreender o que é, como se manifesta, como prevenir e quais os tratamentos possíveis.
DOENÇA PERIODONTAL EM CÃES: O QUE É?
A doença periodontal em cães consiste numa infeção bacteriana na boca.
É causada pela acumulação de placa dentária e tártaro nos dentes, promovendo uma inflamação. Afeta os dentes e as estruturas circundantes que os suportam (gengivas e ossos).
Como se forma a placa bacteriana e o tártaro?
Quando os nossos melhores amigos comem, a acumulação de restos de comida, saliva e as bactérias que habitam a cavidade oral começam a formar uma substância pegajosa sobre os dentes: a placa bacteriana. Posteriormente, e com o passar do tempo, o endurecimento desta pode conduzir ao tártaro: uma placa calcificada (Niemec, 2012).
Esta situação poderá não lhe parecer estranha, uma vez que também nós somos suscetíveis à placa bacteriana e ao tártaro.
Etapas de desenvolvimento
A doença periodontal pode ser caracterizada por etapas, em função do nível de inflamação.
Etapa 1
A primeira fase consiste na inflamação da gengiva (gengivite), consequente da presença de tártaro:
– É reversível;
– Pode observar-se inchaço na gengiva;
– Pode observar-se uma vermelhidão próxima do dente;
– Embora já exista tártaro, não é visível a olho nu.
Etapa 2
A segunda fase consiste na mais precoce da periodontite propriamente dita:
– Existe alguma perda de massa óssea (menos de 25%), visível em radiografias;
– Existe uma pequena separação entre a gengiva e o dente;
– É necessária intervenção médica para limpar/remover a placa bacteriana e o tártaro;
– É reversível;
– Conseguirá observar a natural inflamação da gengiva, o mau hálito, bem como a placa bacteriana e tártaro.
Etapa 3
Esta fase é caracterizada pela periodontite moderada e as lesões são consideradas sérias:
– Existe uma perda de massa óssea entre 25% e 50%;
– As gengivas estão inchadas e irritadas, podendo sangrar com facilidade;
– O seu melhor amigo terá mau hálito e dores consideráveis;
– Os dentes infetados e/ou estragados devem ser removidos.
Etapa 4
A última fase consiste na doença periodontal crónica.
– Existe uma perda de massa óssea severa (mais de 50%);
– O seu patudo estará com fortes dores;
– Existe o risco de perder vários dentes;
– Risco de infeção nos órgãos internos. A bactéria poderá entrar na corrente sanguínea e espalhar-se pelo corpo.
DOENÇA PERIODONTAL EM CÃES: SINTOMAS
Os primeiros sinais da doença periodontal são difíceis de reconhecer.
Se o seu patudo apresentar estes sintomas, significa que poderá estar a sofrer desta patologia:
– Mau hálito;
– Perde de apetite e/ou peso;
– Gengivas avermelhadas e inchadas
– Gengivas em sangue;
– Saliva com sangue;
– Mastigar apenas num lado da boca;
– Se aparecer sangue na água ou nos brinquedos de mastigar;
– Eventual perda de dentes, bem como dentes fraturados;
– Dor ao abrir ou manipular a boca;
– Perda de interesse/dificuldade em mastigar e/ou brincar com os brinquedos;
– Dificuldades para apanhar a comida;
– Protuberâncias na boca (caroços);
– Espirros e secreções nasais.
Se identificar alguns destes sinais, agende uma consulta com o seu Médico Veterinário.
DOENÇA PERIODONTAL EM CÃES: PREVENÇÃO
Vários estudos indicam que, aos dois anos de idade, a maior parte dos cães é, de alguma forma, afetado pela doença periodontal (Niemec, 2012; Stella, Bauer & Croney, 2018).
As medidas profiláticas assumem, assim, um papel preponderante:
- Escove os dentes do seu patudo
Quando não tratada, a doença periodontal é progressiva.
Assim, a limpeza oral, não só é essencial, como deve ser a primeira medida preventiva a tomar.
– Escove os dentes do seu cão duas vezes por dia (VCA Hospitals). As recomendações indicam um mínimo de 3 vezes por semana;
– Deverá habituar o seu cão desde pequeno, para que não seja um momento traumático para ele e para si. Se o seu melhor amigo descobriu a família dele já em adulto, não desespere. Demora um pouco mais a habituar-se, mas é verdadeiramente essencial.
– Informe-se no Veterinário sobre a melhor escova a usar. Não use das nossas.
- Escolha uma ração de boa qualidade
Uma vez mais, informe-se com o seu Médico Veterinário sobre a melhor ração.
- Ofereça brinquedos e guloseimas específicas
No fundo, garanta que disponibiliza objetos e alimentos que façam o seu patudo mastigar diariamente e prevenir a placa bacteriana.
- Marque consultas regulares com o Médico Veterinário
Consultas de rotina / check-up são fundamentais para garantir que o seu melhor amigo está saudável (a todos os níveis).
DOENÇA PERIODONTAL EM CÃES: TRATAMENTO
O tratamento para a doença periodontal varia em consideração do grau de infeção e, de acordo com a VetSmart, o principal intuito do tratamento é o “de restaurar a fisiologia, anatomia e função, prevenindo a inflamação, perda de tecido e eventual perda de dentes”.
Um diagnóstico é definido pelo Médico Veterinário, por intermédio de um exame profundo e/ou radiografias. Será identificada a fase em que o seu patudo se encontra e determinado o procedimento a tomar.
De uma forma geral, embora com tratamentos variados e sob anestesia geral:
– Nas fases 1 e 2 da doença, é necessária a limpeza da boca;
– Nas fases 3 e 4 da doença, para além da limpeza, exige-se a remoção de um ou mais dentes infetados.
Uma vez que os procedimentos implicam que o seu melhor amigo esteja sob anestesia geral e a natural existência de riscos inerentes à mesma, nada há como a prevenção e as consultas de rotina. Assim, escove os dentes do seu patudo diariamente, garanta que ele tem brinquedos e guloseimas adequadas para roer, garanta uma alimentação adequada e consulte o Médico Veterinário.
Bibliografia
Niemec, B., A. (2012). Periodontal Disease: Using Current Information to Improve Client Compliance. Practical Dentistry, pp 61-66.
Stella, J., L.; Bauer, A., E.; Croney, C., C. (2018). A cross-sectional study to estimate prevalence of periodontal disease in a population of dogs (Canis familiaris) in comercial breeding facilities in Indiana and Illinois. PLoS ONE 13(1): e0191395.
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